Acompanhando paralisação liderada por diversas entidades médicas de todo o Brasil, em protesto contra a situação precária da saúde pública e contra a contratação de profissionais estrangeiros para atuarem no SUS, os médicos da rede pública interromperam as atividades nesta terça-feira (30), em Juiz de Fora, e realizaram manifestação no Parque Halfeld, em frente à Câmara Municipal. A suspensão das atividades também está prevista para hoje, com apenas os setores de urgência e emergência funcionando nas unidades de atendimento. A assistência aos pacientes internados também está mantida.
Nesta terça-feira o ato público reuniu cerca de 50 pessoas, entre profissionais, residentes e estudantes da UFJF e de universidades particulares de Juiz de Fora. Durante o protesto, liderado pela Associação dos Médicos de Juiz de Fora, pelo Conselho Regional de Medicina (CRM), pelo Sindicato dos Médicos e pela Associação dos Médicos Residentes do HU/UFJF, houve apitaço e palavras de ordem do presidente do sindicato, Gilson Salomão. "O Governo está tentando transformar os médicos nos vilões da saúde pública no Brasil, quando, na verdade, nós lutamos por melhorias no atendimento à população, por uma saúde melhor para todos. Queremos melhores condições de trabalho, salários e um plano de carreira adequado."
Entre as reivindicações levadas ao ato público, a principal era em repúdio ao "Mais médicos", do Governo Federal. O programa busca atrair novos trabalhadores da área por meio da ampliação do número de vagas no ensino superior e pretende atender a demanda por médicos em regiões desassistidas com a possibilidade de contratação de médicos estrangeiros. Os manifestantes locais pediram a aplicação do Exame Nacional de Revalidação dos Diplomas Médicos (Revalida) para estrangeiros que queiram trabalhar no Brasil, além de enfatizarem a necessidade de melhorias estruturais na saúde pública.
"Se haverá importação, deve haver exame de avaliação desses profissionais. Mas nós consideramos a importação uma solução paliativa, pois não soluciona a questão da falta de insumos básicos nos hospitais. Na maioria das vezes, os médicos não carecem de aparelhos de alta tecnologia. São remédios e suprimentos básicos o que mais falta", afirmou a estudante Letícia Rocha, 23, que participava do ato.
Segundo Gilson Salomão, o protesto desta terça foi apenas uma etapa na luta da categoria por melhorias na saúde pública. Diversas entidades médicas de todo o Brasil estão programando novas paralisações e manifestações, pedindo ao Governo que faça revisões em seus programas de ampliação do atendimento público e que aceite as reivindicações da classe. O Sindicato dos Médicos informou que os pacientes afetados pela paralisação, que tinham consulta marcada para esta terça ou hoje, foram avisados sobre o não atendimento. Cabe à Prefeitura, agora, remarcar as consultas. Segundo levantamento da Secretaria de Saúde, das 64 unidades de atenção primária (Uaps), 39 não participaram da mobilização; 18 aderiram parcialmente e sete foram paralisadas. Por outro lado, a avaliação é de que os serviços de urgência e emergência e do PAM-Marechal não tiveram comprometimentos.
Pautas locais
Além de tratar de questões alinhadas à demanda nacional da classe, os integrantes do movimento protestaram contra a precariedade no SUS em Juiz de Fora, sobretudo no Hospital de Pronto Socorro (HPS). Nesta terça, o prefeito Bruno Siqueira (PMDB) já havia decretado situação de emergência na cidade, garantindo a contratação direta de médicos, compra de medicamentos e insumos sem licitação e remanejamento de servidores públicos. Segundo Gilson Salomão, os médicos atuaram como denunciantes principais do atual estado do SUS no município. "Nós denunciamos esta situação caótica, agora temos de acompanhar as medidas que serão tomadas. Os médicos que atuam no HPS estão em situação de vulnerabilidade, por isso temos de exigir mais contratações e melhores condições de trabalho."
Nenhum comentário:
Postar um comentário